domingo, 15 de agosto de 2010

Nejar, Carlos

O bafo de estar vivo,
Corporal.
Mas quem sabe
se vivo já não sou,
linha férra
sem fim.

A natureza é transição
de som.
A natureza,
fragmento de um fragmento,
onde me deito.

Eu e tu, meu irmão,
cheiramos forte
o ar de estar conscientes.

*

CLARIDADE

O barulho de existir;
um cão
dentro de mim.

Atravesso
como a um pático
o barulho de existir.

*

Até quando
o morno soluço, apele
da execução e medo?
Humanos,
depois nos habituamos
com as escamas e os anos.

*

COISAS, COISAS

A despeito do amor,
as coisas todas
se fizeram ao mar.
Não quis retê-las.
Não conheci regresso.
Coisas, coisas
vos amei por excesso.
E o universo
me foi alto preço.

Todos os bens
vendidos em leilão.
O ar vendido.
Os rios.
As estações.

Comprei arrobas de chuva
ao meu pomar.
Trouxe neblina
de arrasto
pela morte.
Comprei a noite
e dei o menor lance
ao horizonte.

Coisas, coisas,
vos amei por excesso.

Retirados de Árvore do Mundo, editora Nova Aguilar s.a. mec.

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