quinta-feira, 11 de junho de 2009

Benedetti, Mario

No te quedes inmóvil
al borde del camino
no congeles el júbilo
no quieras con desgana
no te salves ahora
ni nunca
no te salves
no te llenes de calma
no reserves del mundo
sólo un rincón tranquilo
no dejes caer los párpados
pesados como juicios
no te quedes sin labios
no te duermas sin sueño
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo

pero si
pese a todo
no puedes evitarlo
y congelas el júbilo
y quieres con desgana
y te salvas ahora
y te llenas de calma
y reservas del mundo
sólo un rincón tranquilo
y dejas caer los párpados
pesados como juicios
y te secas sin labios
y te duermes sin sueño
y te piensas sin sangre
y te juzgas sin tiempo
y te quedas inmóvil
al borde del camino

y te salvas
entonces
no te quedes conmigo

Retirados de A Trégua
Era um bêbado estranho, com uma luz especial nos olhos. Me tomou pelo braço e disse, quase se apoiando em mim: "Sabe o que acontece com você? É que você não vai a lugar nenhum." Outro sujeito que passava nesse instante me olhou com uma alegre dose de compreensão e até me consagrou uma piscadela de solidariedade. Mas já faz quatro horas que estou intranquilo, como se realmente não fosse à parte alguma e somente agora me houvesse inteirado disso.

*

Uma coisa é evidente: se, por um lado, as atitudes extremistas provocam entusiasmo, arrebatam os outros, são indícios de vigor, por outro, as atitudes equilibradas são geralmente incômodas, às vezes desagradáveis, e quase nunca parecem heróicas. Em geral, é preciso bastante coragem (um tipo muito especial de coragem) para manter o equilíbrio, mas não se pode evitar que aos demais isso lhes pareça uma demonstração de covardia. Além disso, o equilíbrio é maçante. E o equilíbrio é, hoje em dia, uma grande desvantagem que em geral as pessoas não perdoam.

*

Seu rosto estava tenso, endurecido. Logo, sem aviso prévio, pareceu que todos os seus recursos se afrouxavam, como se tivesse renunciado a uma máscara insuportável, e assim como estava, olhando para cima, com a nuca apoiada contra a porta, começou a chorar. E não era o famoso pranto de felicidade. Era esse pranto que sobrevém quando alguém se sente opacamente desgraçado. Quando alguém se sente brilhantemente desgraçado, então sim vale a pena chorar acompanhado de tremores, convulsões e, sobretudo, com público. Mas, quando além de desgraçado, alguém se sente opaco, quando não há espaço para a rebeldia, o sacrifício ou o heroísmo, então é preciso chorar sem ruído, porque ninguém pode ajudar e porque se tem consciência de que isso passa e ao final se retoma o equilíbrio.

*

Mas resisto a essa tentação. São pessoas. Não parecem, mas são. E pessoas dignas de uma odiosa piedade, da mais infamante das piedades, porque a verdade é que eles formam para si uma casca de orgulho, um invólucro repugnante, uma sólida hipocrisia, mas no fundo são ocos. Asquerosos e ocos. E padecem da mais horrível variante da solidão: a solidão de quem não tem sequer a si mesmo.