segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Faraco, Sérgio

A mensão dos livros o perturbara, talvez confudisse advogados com cobradores de impostos, fiscais, guardas-aduaneiros. Tranqüilizei-o, não, eu não era nada disso, carregava livros porque gostava deles e gostava tanto que de vez em quando escrevia algum.
Apertou os olhos, interessado.
- É preciso uma cabeça e tanto. Aquele mundaréu de letrinham uma agarrada na outra...

*

Estação de Santa Maria, encruzilhada de trens, ah, quisera eu que em Santa Maria pudesse encontrar alguém que também estivesse à procura de alguém, e se ninguém me fosse dado encontrar, que ao menos me encontrasse a mim mesmo, perdido que andava na pradaria sem carril da minha alma atormentada.

*

Vendo-a assim, desenvolta, eu sentia que algo vicejava forte em mim, uma nova energia, uma vontade de viver, de conviver, compartilhar, e tinha certeza, uma certeza doce, cálida e total, de que agora ela pensava como eu, que valia a pena tentar ainda uma vez, que valia a pena dançar um tango em Porto Alegre. Que importava se era ou não era amor? Sempre, mas sempre mesmo, seria uma vitória.

Retirados do livro Dançar Tango em Porto Alegre - e outros contos