quinta-feira, 26 de julho de 2007

Salinger, Jerome David

...acho que havia mais ou menos um milhão de pequenas por ali, sentadas ou em pé, esperando os namorados(...) era meio deprimente, porque a gente ficava pensando no que ia acontecer com todas elas.(...)A maioria ia provavelmente casar com uns bobalhões. Esses sujeitos que vivem dizendo quantos quilômetros fazem com um litro de gasolina. Sujeitos que ficam doentes de raiva, igualzinho umas crianças, se perdem no golfe ou até mesmo um jogo besta como pingue-pongue. Sujeitos que são um bocado perversos. Sujeitos que nunca na vida abriram um livro. Sujeitos chatos pra burro.

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E se você fosse embora, por exemplo, se partisse sem olhar para trás, assumindo a solidão, sabendo que pode ser um erro, um grave erro, mas que você se sentiria bem assim mesmo, faria isso? Perderia a segurança, mas o que significa estar seguro? Alguém está? Você poderia admitir, sem se enganar, que realmente está seguro?

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Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o que eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e "agarrar" o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.

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O problema é que não existe um lugar gostoso e quieto no mundo. Mesmo que você pense ter encontrado algum, sempre aparece alguém e escreve foda-se nele.

todos retirados do livro Apanhador No Campo de Centeio