Retirados de Outras Inquisições
Um livro, qualquer livro, é para nós um objeto sagrado: já Cervantes, que talvez não escutasse tudo que lhe diziam as pessoas*, lia até "os papéis rasgados nas ruas".
*é relevante colocar que no trecho Borges está comparando a fala à escrita, e enfatiza que Cervantes é tão adepto a esta que nega aquela.
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Também me lembro com certo estupor de uma assembléia convocada apenas para confundir o anti-semitismo. Há várias razões para que eu não seja anti-semita; a principal é esta: a diferença entre judeus e não-judeus me parece, em geral, insignificante; às vezes, ilusória ou imperceptível. Ninguém, naquele dia, quis compartilhar minha opinião; todos juraram que um judeu-alemão difere enormemente de um alemão. Em vão lembrei que é exatamente isso o que diz Hitler; em vão insinuei que uma assembléia contra o racismo não deve tolerar a doutrinha de uma Raça Eleita; em vão invoquei a sábia declaração de Mark Twain: "Eu não pergunto de que raça é um homem; basta que seja um ser humano; ninguém pode ser nada pior" (The Man that Corrupted Hadleyburg, p.204).
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A biografia de Bernard Shaw por Frank Harris contém uma carta admirável de Shaw, de que transcrevo essas palavras: "Compreendo tudo e a todos e sou nada e sou ninguém".
sábado, 31 de janeiro de 2009
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