O trecho a seguir foi retirado do livro O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio
Às vezes, me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim.
Os trechos a seguir foram retirados do livro Misto Quente
Eu gostava do lugar, tinha grandes árvores que davam sombra, e desde que algumas pessoas haviam me dito que eu era feio, sempre preferia a sombra ao sol, a escuridão à luz.
*
Naquela tarde depois da escola eu caminhei apressado pra casa, logo que a aula terminou, sem esperar por David. Não queria vê-lo apanhar novamente dos nossos colegas ou da sua mãe. Não queria ouvir o seu triste violino. Mas no dia seguinte, na hora do almoço, quando ele se sentou comigo, comi suas batatas fritas.
*
- Joe! Joe! Cadê você, Joe?
Joe não ia vir. Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. O que quer que fosse preciso para estabelecer essa confiança, não estava presente na humanidade.
*
[se referindo aos escritores]
Pra mim, esses homens que haviam entrado em minha vida, todos vindos de lugar nenhum, eram minha única chance. Eram as únicas vozes que falavam comigo.
*
Lia meus livros à noite, desse jeito, debaixo das cobertas com a lâmpada superaquecida. Lia todas aquelas belas frases enquanto me sufucava. Era mágico.
*
Eu não tinha interesses. Eu não tinha interesses por nada. Não fazia a mínima idéia de como iria escapar. Os outros, ao menos, tinham algum gosto pela vida. Pareciam entender algo queme era inacessível. Talvez eu fosse retardado. Era possível. Freqüentemente me sentia inferior. Queria apenas encontrar um jeito de me afastar de todo mundo. Mas não havia lugar para ir. Suicídio? Jesus Cristo, apenas mais trabalho. Sentia que o ideal era poder dormir por uns cinco anos, mas isso eles não permitiriam.
*
- Então você não quer estudar? O que você sabe fazer? No que você é bom? Do que você é capaz? Gastei milhares de dólares na sua criação, para alimentá-lo e vestí-lo! Vamos supor que eu ponha você no olho da rua? Então, o que você fará?
- Caçarei borboletas.
*
O cachorro caminhou até o pedaço de sanduíche, aproximou seu nariz e recuou. Dessa vez não olhou para trás. Disparou pela rua.
Já não havia dúvidas de por que eu tinha me sentido deprimido durante toda a minha vida. Não estava recebendo a alimentação adequada.
*
O que eu queria era uma caverna no Colorado com um estoque de comida e bebida para três anos. Limparia minha bunda com areia. Qualquer coisa, qualquer coisa que me salvasse do afogamento desta existência trivial, covarde e estúpida.
Os trechos a seguir foram retirados do livro O amor é um cão dos diabos
vou embora, ela disse. eu te amo mas você é
louco, um caso perdido.
ela apanhou a bolsa e bateu a porta.
provavelmente é algum distúrbio profundamente enraizado na infância
que me faz assim vulnerável, pensei.
então sai de casa e fui até o meu fusca.
dirigi para o norte pela western com o rédio ligado.
havia putas caminhando pra lá e pra cá
dos dois lados da rua e Madge parecia
mais perdida que
qualquer uma delas.
*
mulheres nao sabem como amar,
ela me disse.
você sabe como amar
mas mulheres só querem
parasitar.
hahaha, eu ri.
por isso não se preocupe por ter terminado
com Susan
porque apenas irá parasitar
outro homem.
falamos um pouco mais
então eu me despedi
desliguei o telefone
fui ao banheiro
e mandei uma boa merda de cerveja
e basicamente pensando, bem,
continuo vivo
e tenho a capacidade de expelir
sobras do meu corpo
e poemas.
enquanto isso acontecer
serei capaz de lidar com
traição
solidão
unhas encravadas
gonorréia
e boletim econômico do
caderno de finanças.
com isso
me levantei
me limpei
dei a descarga
e então pensei:
é verdade:
eu sei como
amar.
ergui minhas calças e caminhei
para a outra peça.
*
um outro qualquer as terá
e eu caminharei por aí
em meu short surrado
fumando cigarros demais
tentando extrair algum
drama
de nehum progresso
de fato.
*
tenho que pensar na morte mais e mais
senilidade
muletas
poltronas
escrevendo poesia púrpura com a
caneta pingando
quando mocinhas com bocas
de piranha
corpos como limoeiros
corpos como nuvens
corpos como flashes de luz
pararem de bater à minha porta.
não se preocupe com rejeições, parceiro.
fumei 25 cigarros esta noite
e você sabe sobre a cerveja.
o telefone tocou apenas uma vez:
era engano.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
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2 comentários:
Já li alguns livros do velho Buk. Um dos que eu mais gosto é justamente o último dele. "O Capitão Saiu de Férias e os Marinheiros Tomaram conta do Navio"
Parabéns pelo blog.
hum...e o resto?
[aff]
de quem é o livro?
do Bukowski?
parece legal.
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