às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. é que ao escrever eu me dou as mais inesperadas surpresas. é na hora de escrever que muitas vezes fico consciente das coisas, das quais, sendo incosciente, eu antes não sabia de nada
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Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?
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E agora só queria ter o que tivesse sido e não fui.
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Não sei quem acusar, mas deve haver um réu.
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- Eu vou ter tanta saudade de mim quado morrer.
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- Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, embora isso custe dinheiro.
- É para eu não me doer.
- Como é que é? Hein? Você se dói?
- Eu me dôo o tempo todo.
- Aonde?
- Dentro, não sei explicar.
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Você compreende, não é, mamãe, que eu não posso gostar de você a vida inteira.
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Ter nascido me estragou a saúde.
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Há um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos, e a isto chamamos amor.
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...Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar...
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Porque tudo na vida começa com um 'sim'. Uma molécula disse 'sim' pra outra e a vida nasceu...Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
Sim.
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Se me descuido, morro.
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Estou triste. Um mal-estar que vem do êxtase não caber na vida dos dias.
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Existir é tão completamente fora do comum que, se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama "eu existo", a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista
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Um domingo de tarde sozinha em casa dobrei-me em dois para a frente - como em dores de parto - e vi que a menina em mim estava morrendo. Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias. E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim.
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Tenho saudade do que poderia ter sido e não fui.
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Perder-se é ir achando sem saber o que fazer com o que se for achando.
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A partir daqui todos retirados de A Paixão Segundo G.H.
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Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em "pureza", nossas mãos que são grossas e cheias de palavras.
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Tu eras a pessoa mais antiga que eu jamais conheci. Eras a monotonia de meu amor eterno, e eu não sabia. Eu tinha por ti o tédio que sinto nos feriados. O que era? era como a água escorrendo numa fonte de pedra, e os anos demarcados na lisura da pedra, o musgo entreaberto fio d'água correndo, e a nuvem no alto, e o homem amado repousando, e o amor parado, era feriado, e o silêncio no vôo dos mosquistos. E o presente disponível. E a minha libertação lentamente entediada, a fartura, a fartura do corpo que não pede e não precisa. Eu não sabia ver que aquilo era amor delicado. E me parecia o tédio. Era na verdade o tédio.
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Tudo iria acabar, quando acabasse o que chamávamos de intervalo de amor; e porque ia acabar, pesava trêmulo com o próprio peso de seu fim já em si. Lembro-me de tudo isso como através de um tremor de lágrimas.
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A balança tinha agora um prato único. Nesse prato estava a minha profunda recusa de baratas. Mas agora "recusa de baratas" eram meras palavras, e eu também sabia que na hora de minha morte eu também não seria traduzível por palavra.
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E uma desilusão. Mas desilução de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele esta muito feliz porque finalmente foi desiludido.
sábado, 24 de janeiro de 2009
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3 comentários:
Você compreende, não é, mamãe, que eu não posso gostar de você a vida inteira.
Isso vive rondando meus pensamentos ;)
De nada,Luisa.também não sabia quem era tu,pois tinha achado o Eternal no Google,mas depois inevitavelmente te encontrei no Orkut e pude conferir o Lumiére que é lindo.Vc tem um jeito de escrever tão bonito.Parabéns, mocinha!
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