quarta-feira, 25 de março de 2009
autor desconhecido
Vejo de cima os reflexos divididos em cacos assimétricos do espelho que deixei cair de minhas mãos, eu era superfície plana, linear e tinha forma. Eu era só um. Só, um eu era. Primeira pessoa do singular, e letra legível – de tanto ser, hoje tantos sou. Durante a queda em qual o espelho caía, eu me via cada vez mais em menor proporção, durante a queda eu era letra tremida. E tremida em mesma escala do chão que treme no ponto final da queda – abalo sísmico – me deixou em ruínas, fragmentou-me, eu estirado no chão em cacos, em alto relevo, refletia todos os lados, um caco refletia o outro e o que este refletia. Eu era o teto, o chão, as paredes, e a porta, o que vai e o que não vai além da porta – “sou mais aquilo que em mim não é”. Desde então eu sou dois, sou três, quatro... perco a conta de quanto somos. Diante de tantos eus espelhados e espalhados pelo chão, não sou eu o mais apto a juntar tantos mims. Não deixarei que nos juntemos como gotas de mercúrio, gosto da condição atual em que me desencontro – “por eu ter mergulhado no abismo é que estou começando a amar o abismo de que sou feito.”
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