Para Tereza, o livro era o sinal de reconhecimento de uma fraternidade secreta. Contra o mundo de grosseria que a cercava, não tinha efetivamente senão uma arma: os livros que pedia emprestados na biblioteca municipal: sobretudo os romances: lia-os em quantidade, de Fielding a Thomas Mann. Eles não só lhe ofereciam a possibilidade de uma evasão imaginária, arrancado-a de uma vida que não lhe trazia nenhuma satisfação, mas tinham também para ela um significao como objeto: gostava de passear na rua com um livro debaixo do braço. Eram para ela aquilo que uma elegante bengala era uma um dândi do século passado. Eles a distinguiam dos outros.
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Franz notou que sua mãe estava com sapatos descasados. Ficou confuso, quis avisá-la, temendo ao mesmo tempo magoá-la. Ficou com ela duas horas pelas ruas sem poder despregar os olhos dos seus pés. Foi então que começou a ter uma vaga idéia do que significava sofrer.
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O drama de uma vida pode sempre ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo sobre os ombros. Carregamos esse fardo, que suportamos ou não. Lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. O que precisamente aconteceu com Sabina? Nada. Deixara um homem porque quis deixá-lo. Ele a persiguira depois disso? Quis vingar-se? Não. Seu drama não era de peso, mas de leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.
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Olhavam para ela e repetiam para si mesmos que Karenin sorria, e que, enquanto sorrisse, teria ainda uma razão para viver, mesmo estando condenada.
retirados do livro A Insustentável Leveza do Ser
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
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